Acabo meu feijão com arroz. Amarro as sandálias. Elevador. Cumprimentos na portaria.
Pé na calçada. O vendedor de croissants balança sua buzina sentado numa sombra. “Tocá-la para quem?” Já parece não saber.
No asfalto em lume, o cadeirante se arrisca em meio aos carros para vender balas. De mascar. Masca uma delas olhando vidros feitos para conter balas. De matar. “Como eles vão acreditar em mim, moça?”. É de lascar.
Mais à frente um triciclo corre vazio. Mas por ali circulou mercadoria, é essa a função dele. De outro lado, há vários estacionados com papelão. Parece que a cooperativa está funcionando a toda.
Na feira, chegam carrinhos com malas enormes. Não se fala sobre de onde vieram. O que importa é para onde vão.
Mas na mesma rua vê-se uma mãe indiferente àquele vai-e-vem de carrinhos. Lá vai ela com todo cuidado ajeitar a toquinha de natação da menina. Estava dobrada demais, ora.
E alguém também precisa varrer a rua. Sob sol escaldante? Não importa.
No alto, a dança é de toldos balançando, mas o jovem ao celular não parece saber do show. Mais sorridente está a senhora com sua bengala, ameaçando imitar Chaplin.
Numa esquina anuncia-se todo tipo de conserto, na outra a sociedade segue desconsertada.
Vende-se de tudo a céu aberto – de tapetes a esponjas. Talvez para limpá-los. Se bem que no Brasil geralmente se prefere jogar a sujeira para debaixo deles.
Homens e mulheres viram cartazes. Será que ainda sabem quem são? E com que velocidade distribuem papéis! Será que algum dia os leram?
Calma! Ali na farmácia tem um cafezinho. Ops… Na farmácia? Sim, cafezinho e até croissant.
Coitado do rapazinho da buzina… O mundo está de um jeito que qualquer dia drogaria vai vender feijão com arroz.
06 de Março de 2009,
Ana Helena Tavares.
O feijão com arroz das minhas retinas no Recanto das Letras