Por Raul Longo*
Tive o privilégio de conhecer alguns gênios do Brasil. Mesmo que a meu ver não tão reconhecidos quanto merecem, foram e são o que alimenta a alma desse país, o que lhe dá identidade perante o mundo, o que o traduz a todos que minimamente se disponham a compreendê-lo.
Nesses que conheci a genialidade se manifesta através do que temos de fundo: o cerne da cultura e da magia de nossa gente. De Mário Schenberg à Gilberto Gil, cada um deles transcendia sua ascendência étnica pela brasilidade, como se neles o ser brasileiro seja a soma do que há de mais notável e essencialmente humano em cada cultura, em cada história, em cada povo dos continentes desse planeta.
Talvez por isso mesmo em todos eles se confundisse a compenetração, a profundidade, a seriedade, com a irreverência de um bom humor permanente, indissolúvel mesmo em momentos mais difíceis, ainda que fizessem medo nos momentos de irritação, como é o caso de Tom Zé que não queiram vê-lo indignado com eventuais idiotices e pobre do idiota que se arrisque.
Para minha estranheza, o gênio de Tom Zé sempre foi apontado como o mais irreverente entre os demais que conheci. Mas nunca tive capacidade de demonstrar quanto em verdade é dos mais sérios gênios brasileiros. Para fazê-lo teria de comparar e demonstrar um a um e isso só eles mesmos, talvez, teriam condições, pois é necessário ser um gênio para explicar a outro e, evidentemente, não é o meu caso.
Agora dei sorte. Me enviam esse vídeo que talvez alguns interpretem como um esculacho, mas os que atentarem para a construção do discurso do Tom Zé no decorrer desse vídeo, talvez percebam a constância e seriedade de propósitos em cada um de seus aparentes absurdos, seja no show do Rio de Janeiro ou na área de serviço de seu apartamento.
E a beleza da crua poesia em homenagem às mulheres que faz esse filho de Irará que na adolescência foi o idílio romântico de minha amiga Ilda Paixão, por razões que também sobejamente se explicam neste vídeo.
Na próxima encarnação quero nascer Tom Zé!
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Colaborador do “Quem tem medo da democracia?”
Tom Zé em “A lavagem das calcinhas voadoras”
Depois da chuva de calcinhas voadoras no Rio de Janeiro, Tom Zé volta para SP e faz a cerimônia de consagração!
câmera: André Hime
edição: Huila Gomes
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