As mudanças, por Camões – um poema que o gênio português não deixou nos Lusíadas

Sou filha e neta de portugueses e muito me orgulho disso. Gente trabalhadora e guerreira, de onde trago meus exemplos de vida.  Hoje, dia de Camões, dia de Portugal, deixo aqui um belíssimo e pouco conhecido poema camoniano.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Por Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já foi coberto de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Obs: A imagem é uma junção de duas fotos. A foto de uma paisagem coberta de neve é de Patty Duft. A foto do caminho coberto de verde é de Diego Rieciri Carraro. Montagem e tratamento das imagens: Ana Helena Tavares.

Publicidade

Feito um grão de milho (de Drummond para as mães)

Por Carlos Drummond de Andrade Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto do seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Para sempre
Carlos Drummond de Andrade


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.

Por que Deus se lembra

– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto do seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
%d blogueiros gostam disto: