
41 anos depois…
Drummond me visita e diz:
“Ouvi ontem uma música vinda da sala de linotipos”.
Eu, inquieta, saio vagando por ruelas do Rio,
Saio forçando portas onde só há o vazio.
Mas ele insiste: “era doce a música”.
Mas foi mesmo ontem?, pergunto eu já em desespero.
Qual a sua fonte?, pergunto já com medo.
Sem meias palavras, ele diz: “freqüento os jornais”.
Como freqüenta-los?, me vem a dúvida.
Nas bancas, só vejo caras
Nos bancos, já ninguém senta
Nos cantos, ninguém se escora
Quem canta, já não publica
Parem as rotativas!, é ela: a notícia!
Mas cadê ela?
Ora, já não há delícia.
A notícia vem antes do grito
O grito fica preso…
E o repórter é mais um…
Num mundo de tanto nada.
30 de Julho de 2010,
Ana Helena Tavares
Nas bancas, só vejo caras
Nos bancos, já ninguém senta
Nos cantos, ninguém se escora
Quem canta, já não publica
A notícia vem antes do grito
O grito fica preso…
E o repórter é mais um…
Num mundo de tanto nada.
Tu aqui, sábia e poeticamente, nos expõe a realidade falando do nada. Que bela contradição.
É preciso que te leiamos mais.
Belo… No mínimo.
Parabéns, Jornalista Ana Helena.
CurtirCurtir
Excepcional.
CurtirCurtir
Que beleza, Ana! Isso me remete a outros versos de Drummond. Talvez ele tenha achado o filho que não fez. Aquele que o poeta procurava, perguntando ” em que gruta quedas abstrato?” Belíssima homenagem ao JB, o que não há mais.
CurtirCurtir