De Simon para baixo

Foto: Gustavo Miranda

Simon é tão coronel quanto os que por agora “enfrenta”.
Mas, se depender de nossa grande imprensa, ficaremos até 2010 nivelando o Congresso de Simon para baixo.
Por Ana Helena Tavares
Quer dizer que Pedro Simon (PMDB-RS) acaba de se transformar no último dos moicanos? Paladino da moral e dos bons costumes, sobrevivente de um Congresso que não sabe mais o que é ética. Vejam o que faz uma imprensa vendida ao cacifismo.
Não, não é só o nordeste brasileiro que conhece coronéis. O sul também os conhece. O governo Lula é corrupto, diz Simon, e no estado natal do senador vai tudo bem? Yeda Crusius (PSDB-RS) navega em mar de denúncias sobre corrupção e seu padrinho Simon não tem nada a declarar. Entendi.
Em entrevista concedida, por telefone, em 04 de Agosto, ao programa “Acorda pra vida”, apresentado por Raimundo Varela, na TUDO FM 102,5, o senador Pedro Simon disse que o presidente Lula quer manter o Senado “por baixo, porque assim ele se sente mais à vontade para conduzir o seu pensamento”. Pena que Pedro Simon não se sinta “à vontade” para combater a corrupção no RS.
Mas sente-se “à vontade”, livre, leve e solto, para declarar hoje, 17 de Agosto, em plenário do Senado, que Lula deveria “calar a boca” ao invés de ficar fazendo comentários sobre a denúncia feita pela ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, de que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a teria mandado apressar uma investigação que vinha sendo feita nas empresas da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Se Lula se dá ao trabalho de abrir a boca para defender Dilma com veemência, obviamente é porque acredita nela. Mesmo porque não há prova absolutamente nenhuma quanto a essa denúncia, já quanto à corrupção no governo de Yeda Crusius… Ah, tá, mas aí, quem prefere calar a boca é Simon. Sabe-se lá em quem ele acredita.
Sabe-se lá em quem a imprensa brasileira acredita. Cabe perguntar: será que acredita nela mesma? Os mártires da vez são Collor e Sarney. Ora, ora, que grande descoberta fez a nossa grande imprensa! Descobriu agora que eles são execráveis, desprezíveis, baixos. E eles são mesmo isso tudo? São políticos da pior espécie? São. Basta estudar rapidamente suas biografias. Mas sempre flanaram junto com o vento, ou melhor, junto com as cifras, ou melhor ainda, junto com os editoriais. Quando eles interessavam aos barões midiáticos, Collor e Sarney foram reis. Agora, que não mais interessam, viram bandidos chave-de-cadeia. Bem, mas isso até chegarem perto das grades, porque, nessa hora, sempre flanará uma folha amiga, um globo salvador, que lhes pague a fiança. Ao contrário disso, peço que me digam em que momento nossa grande imprensa tomou as dores do ex-retirante que hoje ocupa o Planalto com mais de 80% de aprovação popular.
Mas a patética mídia nativa tem novo rei. O destemido Pedro Simon, que resolveu enfrentar os coronéis no Congresso. Triste de um país que, na busca desesperada por heróis, é enganado por sua grande imprensa, e endeusa corajosos de ocasião. Quando a figura ápice da honestidade em um Congresso é aceita por muitos cidadãos como sendo um senador que acoberta a corrupção em seu próprio estado, há algo muito errado.
Fico me perguntando: há bravura seletiva? Pavlov ia adorar responder a isso, mas nem é preciso. Há seleções e seleções, claro, mas, quando há interesses políticos envolvidos, tudo é seletivo.
Simon é tão coronel quanto os que por agora “enfrenta”, mas, se depender de nossa grande imprensa, ficaremos até 2010 nivelando o Congresso de Simon para baixo.
17 de Agosto de 2009,
Ana Helena Tavares
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Sobre abusos e leviandades



Impressiona-me a facilidade com que FHC atribui a Lula adjetivos como “leviano”, “imprudente”, “irresponsável”.Um ex-governante que nega seus oito anos de neoliberalismo, um partido que não sabe onde está a democracia, muito menos a social e que, se dependesse deles, tinham vendido a Petrobras, convenhamos, não podem falar de irresponsabilidade ou imprudência. A um ex-presidente que fala sem pensar ao ponto de soltar uma das declarações mais levianas que já ouvi – “Ai, que saudade do governo militar, onde eu podia falar”? – o que resta?

Por Ana Helena Tavares

“O presidente Lula, às vezes, abusa das palavras. Sabe que, se o presidente do Senado eventualmente renunciasse, haveria uma nova eleição. Eu lamento que o presidente diga coisas tão levianas”. Essa foi uma das últimas declarações públicas de nosso falastrão ex-presidente FHC na última quinta-feira, 02 de Julho. Nem pra comédia pastelão serve.
FHC é de tão triste figura que nem sequer percebe que há muito já perdeu a graça. Até para “abusar das palavras” é preciso coerência, é preciso classe. Uma classe que muitos desfilam pelos quadros da Sorbonne, mas raros são os que saem de lá para aplicá-la nas ruas. Deve ter sido lindo para os alunos de “Monsieur FHCÊ, o príncipe dos sociólogos”, aprenderem nas cadeiras da sacrossanta universidade parisiense os ensinamentos de Marx e, anos mais tarde, em 2002, ao final do governo neoliberal de FHC aqui no Brasil, ouvirem dele: “Nunca houve nenhuma chance de neoliberalismo aqui. Este é um país muito pobre e o Estado sempre terá um papel importante na atenuação de diferenças sociais.” (declaração dada ao “Financial Times”). Acho que ele queria que a gente risse, mas nem por isso.
Aí vem FHC criticar Lula pela defesa de Sarney. Curioso. Durante bom tempo do governo FHC, Sarney servia para ser aliado. Unha e carne. Tenho certeza que, quanto a Sarney, se já não prestava naquela época, pouco mudou de lá pra cá. É absolutamente o mesmo. Ah, só que o jogo político se inverteu. Sarney já não serve mais para FHC e para seus abusos. E, caso a saída dele sirva para desestabilizar o atual governo, ótimo. A que papel FHC tem se prestado nos últimos anos senão a tentativas vãs de criar um descrédito sobre a figura de Lula para ver se alcança uma nesga de esperança de voltar a ter alguma importância na cena política brasileira? Isso é o que eu chamo de pensar no país.
No jogo pesado da política reforçado pela numerosa parcela medíocre da imprensa que se vende a ele, não há altares de pureza, há palanques até embaixo de tapetes. É um jogo de causar inveja ao mais maquiavélico jogador de pôquer. Roberto Marinho entendia dos dois jogos. FHC lecionou sobre Maquiavel. Conhece bem os tortuosos túneis da política (ou seriam “passagens secretas”?), aqueles da “arte” do bem encobrir, dos “alguéns” a proteger. Por tudo isso, desconfio sempre muito de “demonizações” exacerbadas, qualquer que sejam elas, ainda que, como é o caso de Sarney, a pessoa não seja flor que se cheire. Isso porque, aqueles que hoje levantam a voz contra ele fazem parte do mesmo jardim.
Ah, como eu queria que o problema se resumisse à queda do presidente do Senado! Seria muito mais fácil, só que, para a coisa ser justa, muitos precisariam cair com ele.
Senão vejamos… Por que será que ninguém ainda parou para assumir de onde se origina a alçada das irregularidades encontradas em contratos, atos administrativos e passagens aéreas no Senado? Tudo isso está (ou deveria estar) sob os olhares atentos da primeira-secretaria que, historicamente, é comandada pelo DEM. A atual gestão está aí para não me deixar mentir. O primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado é Heráclito Fortes (DEM-PI). Ou seja, parece claro que, se há contas a prestar, o DEM também tem que prestá-las. Mas isso não é falado pela imprensa, não é? Pra que?
Leviandades por leviandades… Impressiona-me a facilidade com que FHC atribui a Lula adjetivos como “leviano”, “imprudente”, “irresponsável”. Ora, a declaração de FHC sobre Lula, dada ontem e que aparece no início deste texto, refere-se à fala de Lula de que “o PSDB tenta ganhar no tapetão ao pedir o afastamento de Sarney”. Há alguma mentira aí, “Monsieur FHCÊ”? Aliás, de tapetão o senhor entende, não é? Conte aqui só para a gente… Como foi mesmo que o senhor conseguiu o apoio da maioria dos deputados para a aprovação da sua reeleição em 98, sem uma consultazinha popular sequer? Ah, já sei, é que o senhor sempre distribuía balas no Congresso no dia de São Cosme e Damião, não é?
Um ex-governante que nega seus oito anos de neoliberalismo, um partido que não sabe onde está a democracia, muito menos a social e que, se dependesse deles, tinham vendido a Petrobras, convenhamos, não podem falar de irresponsabilidade ou imprudência. A um ex-presidente que fala sem pensar ao ponto de soltar uma das declarações mais levianas que já ouvi – “Ai, que saudade do governo militar, onde eu podia falar”? – o que resta?
Só merecia mesmo retornar à Sorbonne e perceber que, hoje em dia, os alunos de lá preferem ouvir o Lula.

03 de Julho de 2009,
Ana Helena Tavares

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