O doce maior da vida – minha crônica para as mães

Por Ana Helena Tavares Uma mãe, creio eu, está desde o simples gesto do pedaço de doce levado no quarto do filho até a crença inabalável de que seus filhos são seu maior doce.

Por Ana Helena Tavares (o texto é de 2009, mas mãe é mãe sempre)

– Dedicado à minha mãe, Maria do Céu (na foto, comigo), o meu maior doce, e a todas as verdadeiras mães do mundo.

Dentro do instinto biológico ideal, toda mulher deveria nascer mãe. Afinal, todas deveriam nascer para reproduzir. Só que algumas conseguem, outras não. E, além disso, quem disse que reproduzir é ser mãe?

Sinceramente, não acredito que o famoso “instinto maternal” seja comum a todas as mulheres. Não creio que toda mulher nasça com o instinto social (se é que cabe este termo) de ser mãe. Se assim fosse, como seriam possíveis todos os casos de mães que renegam, maltratam e até matam seus filhos? Como chamar aqueles seres de mães? Como é possível dizer que aquelas pessoas nasceram mães? A sociedade pode ter corrompido algumas, mas há aquelas que parecem já ter nascido com raiva de bonecas…

Dizem que o ato de brincar de boneca é o maior ensaio para as futuras mães. Mas há meninas que só gostam de brincar de carrinho e nem por isso significa que vão torna-se péssimas mães. Para muitas mulheres o seu maior sonho é vir a ser mãe. Outras, porém, preferem ter como ambição uma carreira de sucesso ou um amante insaciável – sem jamais pensar em ter filhos. Nem todas as mulheres, fazem uma festa a uma criança ou brincam com elas. Como todos nós sabemos, não é difícil encontrar muitas que repudiam crianças, quase como se as mesmas fossem um estorvo a evitar a todo o custo.

A sociedade mudou, é claro, mas isso não quer dizer que antes todas nasciam mães e agora não. Desde sempre houve desvios. O fato é que o termo mãe é grande demais para que se possa afirmar que toda mulher já nasce com ele. Não, não nasce. Mãe é uma das menores palavras da língua portuguesa e é a que talvez tenha um dos significados mais complexos. Não há mãe sem sonhos construídos em conjunto.

Sendo assim, não posso dizer que toda mulher já nasce podendo ser considerada mãe. Pois, quando olho pro mundo à minha volta, não posso crer que todo ser humano, homem ou mulher, já nasça amando. Na verdade, não nasce amando nem odiando. Sentimentos são edificados tal como castelos. E só o real amor pelos filhos torna uma mulher mãe.

Sendo biológica ou adotiva, quando a mãe é mãe, atribui todo o amor que tem dentro de si àquela criatura condicionada ao seu encanto – e a relação com seus filhos depende tanto do toque carinhoso na cria como da capacidade de uma “troca de olhares” a léguas de distância.

Não, eu não posso dizer que sou mãe. Sequer que sei o que significa ser. Posso no máximo fazer recortes da realidade que observo. Uma mãe, creio eu, está desde o simples gesto do pedaço de doce levado no quarto do filho até a crença inabalável de que seus filhos são seu maior doce.

Tantas e tantas definições já foram dadas para as mães. Nenhuma delas alcança o que se passa no coração das verdadeiras mães ao perder um filho. Mário Lago, autor daquela conhecida música que tenta definir o que é uma “mulher de verdade”, disse certa vez num desconhecido poema: “É um fruto de sua vida / Um fruto que Deus lhe deu / Quem perde mãe já perdeu / o doce maior da vida”. Não resta dúvida que nossas mães são um doce inigualável. Mas arrisco-me a dizer que a dor da perda de uma mãe em nada supera a dor da perda de um filho. É uma questão de ordem natural das coisas. Como o próprio Mário Lago disse: o filho “é um fruto de sua vida”. É exatamente isso. E, nesse sentido, eu acrescentaria que as verdadeiras mães projetam em seus filhos um sentimento de imortalidade. O que gera uma sensação de perda de continuidade terrível a cada filho que morre.

Mãe é isso. É se doar de forma incondicional, vibrando mais com as vitórias dos filhos do que com as próprias, não se importando em até matar por eles, ou em deixar de respirar se for para o filho continuar perdendo o fôlego.

E isso não se vê em qualquer esquina.

05 de Maio de 2009,
Ana Helena Tavares

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Feito um grão de milho (de Drummond para as mães)

Por Carlos Drummond de Andrade Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto do seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Para sempre
Carlos Drummond de Andrade


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.

Por que Deus se lembra

– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto do seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
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