Um cordel para a dita

Por Crispiniano Neto Dizem que a “dita” é a sorte
De um povo ou de uma pessoa,
Há “dita” ruim, “dita” boa,
“Dita” fraca ou “dita” forte,
“Dita” pra vida ou pra morte,
“Dita” suja e “dita” pura,
“Dita” clara e “dita” escura,
“Dita” maldita ou bendita,
Mas “dita” vira desdita
Na maldita DITAdura!

O cordel abaixo é da época em que a Folha chamou a ditadura brasileira de ditabranda. Recebi recentemente do meu amigo cordelista Jetro Fagundes, mas este não é dele. É de Crispiniano Neto.

Dizem que a “dita” é a sorte
De um povo ou de uma pessoa,
Há “dita” ruim, “dita” boa,
“Dita” fraca ou “dita” forte,
“Dita” pra vida ou pra morte,
“Dita” suja e “dita” pura,
“Dita” clara e “dita” escura,
“Dita” maldita ou bendita,
Mas “dita” vira desdita
Na maldita DITAdura!

Nas crônicas das tiranias
Jamais viu-se em ditadura,
Um só grama de brandura…
Só tortura e hipocrisias;
Somente em cabeças “Frias”
Tanta ignomínia anda,
Pois pra nós nunca foi branda
A má “dita” que perdura
Na maldita ditadura
Da cabeça de quem manda.

Porque chamar “Ditabranda”
Uma bruta ditadura
Que jogou na fase escura,
Cruel, corrupta e nefanda,
Nossa Pátria que demanda
Nas paredes da memória
Ao longo da sua história
Alguma oportunidade
De ver-se a felicidade
Pra quem foi jogado à escória!

Quem batiza a ditadura
De “ditabranda” ironiza,
Tripudia, escarra e pisa
Quem sofreu na escravatura,
Quem viu sua taba pura
Sucumbir frente às bandeiras,
Quem viu as hordas guerreiras
Matando a fé nos Sertões
Quem viu chibata e canhões
Contra as almas marinheiras!

Quem por “ditabranda” chama
Décadas de tortura e medo,
Prisão, cassação, degredo,
Golpes, ódio e mar de lama,
Com certeza é porque ama
A cartilha do fascismo,
E além do grande cinismo
De um jornalismo marrom
Que chama o que é ruim, de bom,
Pratica o mau-caratismo!

Somente um cérebro maldito
Defende com tanto afinco
Golpe, canhão, AI-5,
Censura, porão, conflito…
Cospe os ossos de Frei Tito,
Pisa na democracia…
Eu peço a essa mente Fria:
Por caridade não jogue
Por sobre o túmulo de Herzog
Seus buquês de covardia!

Só quem é da mesma laia
De Cabo Anselmo e Fleury
E as botas de Golbery
Lambeu de forma lacaia,
Só quem quer o Brasil caia
Ao patamar de Uganda,
Quem arapongas comanda,
Quem deu Kombi pra tortura…
É que chama a ditadura
Tão cruel de “ditabranda”!

Antes que jornais burgueses
Passem-nos Goebells nas ventas
Dizendo mais novecentas
E noventa e nove vezes,
Não vamos esperar meses,
Sequer semanas e dias
Que essas mentes doentias
Tão friamente fascistas
Precisam ser sempre vistas
Como calculistas… Frias!

Se a “Dita” foi mesmo branda
Cadê Padre Henrique orando?
Vandré, onde está cantando?
Rubens Paiva aonde anda?
Honestino a quem comanda
Na batalha estudantil?
Cadê Dina varonil?
Fiel Filho onde faz greve?
Herzog agora, onde escreve?
Cadê teus filhos, Brasil???????

Quem ensinou censurar,
Quem da OBAN foi reboque,
Quem noticiou que Roque
Morreu, antes de expirar,
Não poderá criticar
Fábio e Vitória jamais…
Tem rabo preso demais
Mas não com quem lê nem ouve…
Ditabranda NUNCA HOUVE;
Ditadura NUNCA MAIS

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Sobre a sabatina da Folha de S. Paulo com seu Ombudsman

Entre importantes erros assumidos, uma grande ausência e uma comparação que só pode ser piada

Por Ana Helena Tavares

A Folha de S. Paulo, para marcar os 20 anos da criação de seu cargo de Ombudsman, aquele cargo que serve para o jornal tentar passar a idéia de que há lá dentro uma democracia que não há, promoveu ontem, 21 de Setembro de 2009, uma sabatina com seu atual Ombudsman, Carlos Eduardo Lins da Silva, que resiste bravamente há 18 meses no cargo. Não, ele não é dos piores, muito longe disso. Quem conhece toda a dificuldade e a pressão do seu cargo, sabe que faz um trabalho digno de respeito.

Um dos importantes erros da Folha que ele corajosamente assumiu desde o início, refere-se ao lastimável episódio da ficha falsa de Dilma, a que ontem ele se referiu exatamente com essas palavras:

No caso do dossiê da Ministra Dilma Roussef, fiz sugestões muito concretas. Foi um caso polêmico, muito controvertido e nenhuma delas foi atendida. Foi a situação da reprodução de uma suposta ficha da ministra Dilma do período em que ela era militante de um movimento revolucionário no regime militar. Essa foto foi publicada em primeira página da Folha como se fosse verdadeira. Depois a Folha disse que não tinha como provar que era verdadeira, mas também não tinha como provar que era falsa. Na minha opinião, é um dos dois erros mais graves que a Folha cometeu ao longo destes 18 meses”.

O outro erro a que ele se refere certamente também foi grave, mas este não foi só dos Frias, foi dos Mesquita, dos Marinhos e de outros. Sedentos por plantar o terror na velha ânsia de vender mais e mais. Pois é, infelizmente o terror vende. E o erro em questão foi a fatídica gripe suína. Ontem, assim Carlos Eduardo Lins da Silva se referiu à cobertura da Folha sobre o assunto:

Há exatamente dois meses a Folha, em chamada de 1ª página, disse: Em dois meses, trinta e tanto milhões de brasileiros devem estar infectados e 4,4 milhões devem estar internados. Isso baseado em um modelo matemático que não era alimentado por dados a respeito desta gripe, mas sim de outras gripes do passado. Esse acho que foi o erro mais grave que a Folha cometeu nesse meu período como Ombusdman”.

Parabéns ao Ombusdman pelos importantes erros apontados, mas e a “Ditabranda”? Pergunto eu… Por que ela ficou de fora de tão nobre evento? A sabatina foi enorme, as perguntas foram inúmeras e por que os nobres entrevistadores (Marcelo Coelho, Eleonora Gosman, Verônica Goyzueta e Eugênio Bucci) não colocaram a “Ditabranda” em pauta ou por que o entrevistado não tratou de lembrá-los? Esquecimento, concordância ou submissão?

Bem, mas como é véspera de ano eleitoral, nada mais oportuno do que comparar a cobertura dada pela Folha ao governo FHC com a dada ao governo Lula. E aí… Lins da Silva produziu uma pérola:

Muitos leitores acham que a Folha foi mais condescendente com o governo FHC do que com o governo Lula. Essa é uma resposta que só pode ser dada por meio de um trabalho acadêmico, científico, metodologicamente e comprovadamente constatado. Fica-se muito no terreno das impressões… Na minha impressão, a Folha era muito dura com o presidente Fernando Henrique também.”

Prefiro acreditar que essa foi pra descontrair o ambiente, só pode…

Ana Helena Tavares

Obs: Matéria escrita originalmente para o blog “Quem tem medo do Lula?

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