“Como era a reunião de pauta no Pasquim?”, perguntaram certa vez ao jornalista Luiz Carlos Maciel. “Reunião de Pauta?!?! No Pasquim?!?!”, foi a resposta.
A revelação foi feita durante palestra sobre Jornalismo Cultural no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, na quarta-feira, 08/04/2009. “Cada um enviava suas matérias, o Tarso (de Castro, editor do Pasquim) juntava tudo e transformava aquilo num jornal. Pronto!”, completou Maciel.
Pronto? Como “pronto”? Não faltava algo àquele jornal? Uma falta que proporcionou o seu sucesso. Algo que sobra à grande imprensa de hoje… O que seria? Objetividade!
Não falo de objetividade na linguagem. Aquela que – de forma totalmente imparcial – se apega exclusivamente ao objeto de análise. Isso é mito do jornalismo. “Conversa fiada”, como definiu o próprio Maciel.
Não, caros leitores, o jornalista, por mais neutro que tente ser, nunca consegue se desprender por completo do sujeito que é. Portanto, todo o relato já é – por natureza – subjetivo. E como seria bom se milhões de leitores e telespectadores entendessem isso…
Então temos aí que a objetividade à qual o Pasquim se opunha com todas as suas forças e à qual vemos a grande imprensa de hoje totalmente rendida é uma objetividade de outro tipo. É uma objetividade que vem de escolhas, interesses e, como não poderia deixar de ser, objetivos.
Nada tem a ver com o objeto a ser apresentado, ou em outras palavras, sua excelência: o fato. Esse, aliás, muitas vezes fica mesmo é relegado a décimo plano. Quem sabe ele aparecerá numa notinha de pé de página. Se der sorte.
E essa objetividade tem dono, sua santidade: o mercado. A ele, sim, o jornalismo deveria fazer oposição sempre…
Mas, aquele pra quem os donos de jornais rezam todas as noites, é capaz de tolher qualquer idealista numa reunião de pauta.
10 de Abril de 2009,
Ana Helena Ribeiro Tavares
O Pasquim e a oposição à objetividade no Recanto das Letras