Conflitos no campo – Um cordel pra Reforma Agrária

Por Crispiniano Neto Desde quando o invasor, das caravelas,
Deu um grito dizendo “terra à vista”
Que um conflito terrível se avista
Com o sangue a sujar paisagens belas
“herdem a terra”, em frases tão singelas
Garantiram “plantando tudo dá”
Destes tempos românticos para cá,
muitos foram plantados nestes chãos
por querer fecundá-los com as mãos
do extremo Chuí ao Amapá!

Por Crispiniano Neto

Desde quando o invasor, das caravelas,
Deu um grito dizendo “terra à vista”
Que um conflito terrível se avista
Com o sangue a sujar paisagens belas
“herdem a terra”, em frases tão singelas
Garantiram “plantando tudo dá”
Destes tempos românticos para cá,
muitos foram plantados nestes chãos
por querer fecundá-los com as mãos
do extremo Chuí ao Amapá!

Pindorama contava nestes dias
Com milhões de irmãos Gês, Guaranis,
Anaruaques, tapuios e tupis
Sob os mapas das vis capitanias;
Em seguida vieram as sesmarias
E depois as entradas e bandeiras
As fazendas de gado ou cafezeiras
as “plantations” complexas e as usinas
que redundam em balas assassinas
das eternas UDRs brasileiras.

Em seguida trouxeram o negro escravo
No chicote, na algema, bala e tombo
Que levou por três séculos, sobre o lombo
O País entre ferradura e cravo
Amargando na boca um grande travo
Carregando no ombro as padiolas
Mas depois se tornando quilombolas
Pra buscar liberdade e novos ares
Construindo centenas de Palmares
Pra quebrar as algemas e as argolas.

Depois foram famintos sertanejos
Contestado, Canudos, Caldeirão ,
com enxada e rosário em cada mão
Para São Saruê foram cortejos
A trombeta da fé guiou desejos.
Que queria este povo em oração?
Monarquia nem Dom Sebastião…
Só queriam montar nos arraiais
Um Brasil sem miséria e capataz
Mas com terra e fartura no Sertão!

Vi depois nossas Ligas Camponesas
Dão, Virgínio e também Pedro Teixeira
Enfrentando o fuzil e a peixeira
Preparando também suas defesas;
Latifúndio montando fortalezas
Ditadura mudando de idéia
A rasgar o Estatuto na estréia
E eles firmes na luta que juraram
A exemplo de Cristo eles sangraram
Na defesa do chão da Galiléia.

Este rastro de sangue brasileiro
Representa um rastilho de esperança
De que a terra inda vai trazer bonança
Quando for realmente do roceiro
Nossa luta acompanha este roteiro
Desta gente que vai cantando salmos
Destes homens tão firmes mesmo calmos
Das mulheres que querem só viver
Deste povo que luta pra não ver
Sua terra medida em sete palmos!

Ter a terra pra quem luta na terra
Ter a água que mate a sede e molhe…
Ter o fruto pra quem plante e quem colhe
Ter um porto seguro pra quem erra
Nos caminhos e atalhos desta guerra
E acabar com o trabalho escravizado
Pra o Brasil se chamar civilizado
Um país que afirma ser cristão
É preciso um lugar ao sol e ao chão
Com roceiro podendo ter roçado!

São milhares de vítimas desta luta
Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro-Oeste
Porém sempre um destaque pra o Nordeste
Onde a seca e cerca entram em disputa.
Destruíram com a “lei da força bruta”
Chico Mendes, Cretã e Oswaldão,
Um Justino, um Josimo, um Zé, um João…
Margarida que a nós deixou insônia
E os irmãos massacrados em Rondônia
E aqui perto, o saudoso Bastião!

Se integre, que a luta com você
Terá tudo pra ser muito maior
Dando o melhor de si pra ser melhor
Essa luz que ao longe o povo vê
É na ação que também vê e lê
O anúncio do sangue que cairá
E o registro do sonho que já está
Já na crônica das mortes planejadas
Mas é mapa das terras conquistadas
E é projeto do reino que virá.

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Um cordel para a dita

Por Crispiniano Neto Dizem que a “dita” é a sorte
De um povo ou de uma pessoa,
Há “dita” ruim, “dita” boa,
“Dita” fraca ou “dita” forte,
“Dita” pra vida ou pra morte,
“Dita” suja e “dita” pura,
“Dita” clara e “dita” escura,
“Dita” maldita ou bendita,
Mas “dita” vira desdita
Na maldita DITAdura!

O cordel abaixo é da época em que a Folha chamou a ditadura brasileira de ditabranda. Recebi recentemente do meu amigo cordelista Jetro Fagundes, mas este não é dele. É de Crispiniano Neto.

Dizem que a “dita” é a sorte
De um povo ou de uma pessoa,
Há “dita” ruim, “dita” boa,
“Dita” fraca ou “dita” forte,
“Dita” pra vida ou pra morte,
“Dita” suja e “dita” pura,
“Dita” clara e “dita” escura,
“Dita” maldita ou bendita,
Mas “dita” vira desdita
Na maldita DITAdura!

Nas crônicas das tiranias
Jamais viu-se em ditadura,
Um só grama de brandura…
Só tortura e hipocrisias;
Somente em cabeças “Frias”
Tanta ignomínia anda,
Pois pra nós nunca foi branda
A má “dita” que perdura
Na maldita ditadura
Da cabeça de quem manda.

Porque chamar “Ditabranda”
Uma bruta ditadura
Que jogou na fase escura,
Cruel, corrupta e nefanda,
Nossa Pátria que demanda
Nas paredes da memória
Ao longo da sua história
Alguma oportunidade
De ver-se a felicidade
Pra quem foi jogado à escória!

Quem batiza a ditadura
De “ditabranda” ironiza,
Tripudia, escarra e pisa
Quem sofreu na escravatura,
Quem viu sua taba pura
Sucumbir frente às bandeiras,
Quem viu as hordas guerreiras
Matando a fé nos Sertões
Quem viu chibata e canhões
Contra as almas marinheiras!

Quem por “ditabranda” chama
Décadas de tortura e medo,
Prisão, cassação, degredo,
Golpes, ódio e mar de lama,
Com certeza é porque ama
A cartilha do fascismo,
E além do grande cinismo
De um jornalismo marrom
Que chama o que é ruim, de bom,
Pratica o mau-caratismo!

Somente um cérebro maldito
Defende com tanto afinco
Golpe, canhão, AI-5,
Censura, porão, conflito…
Cospe os ossos de Frei Tito,
Pisa na democracia…
Eu peço a essa mente Fria:
Por caridade não jogue
Por sobre o túmulo de Herzog
Seus buquês de covardia!

Só quem é da mesma laia
De Cabo Anselmo e Fleury
E as botas de Golbery
Lambeu de forma lacaia,
Só quem quer o Brasil caia
Ao patamar de Uganda,
Quem arapongas comanda,
Quem deu Kombi pra tortura…
É que chama a ditadura
Tão cruel de “ditabranda”!

Antes que jornais burgueses
Passem-nos Goebells nas ventas
Dizendo mais novecentas
E noventa e nove vezes,
Não vamos esperar meses,
Sequer semanas e dias
Que essas mentes doentias
Tão friamente fascistas
Precisam ser sempre vistas
Como calculistas… Frias!

Se a “Dita” foi mesmo branda
Cadê Padre Henrique orando?
Vandré, onde está cantando?
Rubens Paiva aonde anda?
Honestino a quem comanda
Na batalha estudantil?
Cadê Dina varonil?
Fiel Filho onde faz greve?
Herzog agora, onde escreve?
Cadê teus filhos, Brasil???????

Quem ensinou censurar,
Quem da OBAN foi reboque,
Quem noticiou que Roque
Morreu, antes de expirar,
Não poderá criticar
Fábio e Vitória jamais…
Tem rabo preso demais
Mas não com quem lê nem ouve…
Ditabranda NUNCA HOUVE;
Ditadura NUNCA MAIS

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