Dois banquinhos, um bate-papo

Foto: Ana Helena Tavares

– Hoje o bate-papo é sobre amizade… Vinicius e eu, eu e Vinicius… E aspas nele!

– Dedico esse “diálogo” a todos os meus verdadeiros amigos, impossível e desnecessário citar nomes.

“Enquanto passando, enquanto esperando,
de que mais precisa um homem senão
de suas mãos para apertar as mãos do amigo
depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo,
e pra discutir com o amigo…?”

Mão amiga,
Afaga-nos com a canção,
Entoada pelo coração,
Nosso ícone.
Liberta-nos do impossível,
Assusta a solidão…
Rei de todos que
Amigos têm!

“Suportaria, embora não sem dor,
se morressem todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos”.

É naqueles amigos
De raridade impagável,
Tão ávidos por liberdade,
Imbuídos de amizade,
Que algo faz nascer-me a vontade
De sair cantando, ter identidade
E, sem maldade,
Existir. Não parar,
Tentar!
Ombros fiéis poder encontrar…
Para com eles remar,
Regar minha esperança.
E, com carinho no peito,
Semear amizades…

“Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.”

No impulso desse riso da vida,
Dessa sincera fonte de paz
O iminente sorriso
Que um amigo nos traz.

“De que mais precisa um homem senão
de um amigo pra ele gostar,
um amigo bem seco, bem simples,
desses que nem precisa falar — basta olhar –
um desses que desmereça um pouco da amizade,
de um amigo pra paz e pra briga?”

Amizade sem superação de diferenças
É como uma roseira que se fere com seu espinho.
É como uma estrada que se perde em seu caminho.
Ou já imaginaram a videira embebedando-se com o vinho?

Ana Helena Ribeiro Tavares

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No meio do caminho uma conversa

Foto: Ana Helena Tavares

Encontrei Drummond num banquinho à beira mar e…

– Dedico este “diálogo” ao meu amigo Luís Maurício, um belo presente que a vida me colocou no meio do caminho.

(Aspas nos trechos de Drummond)

“Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós”.

É sempre bom estar junto…
Mas tantas redomas não se quebram.
E o que é mesmo estar e ser hoje nesse mundo?
Por que mais mãos não se apertam?

“O presente é tão grande, não nos afastemos.
Vamos de mãos dadas.”

Tijolo por tijolo, cada qual desunido…
É assim que o futuro vai ser construído?

“Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.”

Felicidade, tá aí um sentimento indeciso…
Às vezes traz lágrima, às vezes sorriso…

“Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.”

Acho bonito demais o poder de comoção…
Pena que às vezes não traga efeito prático.
De que adianta ter a oportunidade na mão
E, de tão comovido, se manter estático?

“Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra.”

Sorte de quem encontra pedras na estrada
Pedras mesmo, grandes, duras
Aprendizado sem elas? Que nada…
A vida só é plena com aventuras

“Sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!”

Pano vermelho, fecha-se o tablado
Pertences em um punho, todos em retirada
Mas batem corações num palco iluminado.
E o ator reaparece – êta pessoa inconformada! –

“O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.”

Acho que o jornalista tem que ser um pouco ator
Não para fingir, mas para se inconformar com a dor

“A bomba
não destruirá a vida
O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba.”

Será a História um relógio cíclico de ponteiros distraídos?
Será que a humanidade alterna períodos, de variadas durações,
Que de tempos em tempos se fazem parecidos?
Teríamos aí uma lei de ações e reações

“Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.”

– Prefiro negar-te a viver sem motivo!
Talvez quem se suicida diga isso à vida
Mas será que essa pessoa viveu num mundo incompreensivo
Ou será que foi ela que nunca deu a ele outra saída?

“Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?”

Se houver amor, te juro,
Há também o apesar de tudo.

Ana Helena Ribeiro Tavares
27/06/08

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