Rio amanhece vermelho em apoio aos bombeiros

Por Gabriel Macieira A população fluminense não teve problemas para acordar cedo neste domingo e ir à praia de Copacabana prestar seu apoio à causa dos bombeiros do Estado, que lutam por reajuste salarial e pela anistia geral (criminal e institucional) aos profissionais presos durante um protesto.

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Passeata da categoria reuniu milhares de pessoas em Copacabana

Por Gabriel Macieira, direto do Rio de Janeiro*

A população fluminense não teve problemas para acordar cedo neste domingo e ir à praia de Copacabana prestar seu apoio à causa dos bombeiros do Estado, que lutam por reajuste salarial e pela anistia geral (criminal e institucional) aos profissionais presos durante um protesto. Em sua maioria vestidas de vermelho, cerca de 10 mil pessoas seguiram os três carros de som que saíram do hotel Copacabana Palace por volta das 9h. Muitas levaram balões, que foram lançados ao ar, representando a liberdade dos bombeiros.

“O que a gente procura agora é dignidade para o nosso trabalho e a liberação de todos os presos. Depois iremos atrás do aumento de salário”, disse o bombeiro Geneci Barreiro Neto, 36 anos, se referindo aos cerca de 25 profissionais que ainda não foram libertados. Ele participou do ato ao lado da mulher e se disse satisfeito com o apoio demonstrado pela população. “Tenho que agradecer o governador Sérgio Cabral, por que se ele fez uma coisa boa foi botar todo o povo ao nosso lado”, gracejou.

A aposentada Maria Helena Freitas era uma das pessoas que decidiu apoiar os bombeiros. Ela acordou às 5h e foi sozinha, de Duque de Caxias, região metropolitana do Rio, para a passeata. Segundo ela, a manifestação demonstra o poder que o povo pode exercer para conseguir justiça. “Não poderia perder essa passeata, pois há muito tempo não acontece algo parecido. O Brasil precisa lutar mais vezes”, disse.

Estiveram presentes no evento parlamentares estaduais, como Marcelo Freixo (Psol) e Flávio Bolsonaro (PP), e federais: Alessandro Molon (PT-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Artistas também apoiaram a causa da categoria. A cantora Alcione compareceu de camisa vermelha e capacete da corporação.

Anistia deve ser votada
O deputado federal Alessandro Molon disse que há chances de que a anistia para os 439 bombeiros seja votada ainda esta semana. Molon é um dos deputados que conseguiu, na madrugada de sexta-feira, um habeas corpus para soltar os militares presos.

Bombeiros na cadeia
Cerca de 2 mil bombeiros que protestavam por melhores salários invadiram o quartel do Comando Geral dos Bombeiros, na praça da República, em 3 de junho. O Batalhão de Choque da Polícia Militar invadiu o local e prendeu 439 bombeiros. Eles respondem pelos crimes de motim, dano ao aparelhamento militar (carros e mobiliário), dano a estabelecimento (quartel) e inutilização do meio destinado a salvamentos (impedir que carros saíssem para socorro).

Os bombeiros prosseguem com os protestos, e acamparam em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) até que os detidos começaram a ser libertados, em 10 de junho. Eles não aceitam a proposta de reajuste de 5,58% oferecida pelo Estado e pedem ainda a anistia geral (criminal e administrativa) dos bombeiros presos.

A situação vinha se tornando tensa desde maio, quando uma greve de guarda-vidas, que durou 17 dias, levou cinco militares à prisão. A paralisação acabou sendo encerrada por determinação da Justiça. Os bombeiros alegavam não ter recebido contraproposta do Estado sobre a reivindicação de aumento do piso mínimo para R$ 2 mil. Os profissionais fluminenses recebem cerca de R$ 950 por mês.

Com informações de O Dia

*Fonte: Portal Terra

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A reforma agrária pelo olhar dos assentados

Julio Cezar P. de Oliveira: Esse livro se coloca no campo da defesa da necessidade da Reforma, não apenas como um instrumento que possa garantir melhores índices de distribuição da terra, mas também que incorpore produtivamente milhares de famílias que se encontram segregadas nas áreas mais pobres das cidades brasileiras.

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Por Júlia de Martins, no site “Olhar Virtual” (da UFRJ) 

O pesquisador Julio Cezar Pinheiro de Oliveira, formado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e aluno de Pós-graduação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ (Ippur), lançou este ano o livro Desconstruindo o Latifúndio: a saga da Reforma Agrária no Norte Fluminense (Editora Apicuri, 2011).

A obra, organizada por Oliveira juntamente com os professores Marcos A. Pedlowski e Karla Aguiar Kury, apresenta um conjunto de artigos sobre os assentamentos criados por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na região Norte do Rio de Janeiro. O projeto busca acrescentar outros elementos à discussão sobre a Reforma Agrária no Rio e no Brasil a partir do ponto de vista diferente.

A publicação, que contém 212 páginas, foi lançada no dia 10 de maio e está disponível pelo preço médio de R$30.

Em entrevista ao Olhar Virtual, Julio Cezar falou um pouco mais sobre a obra.

Olhar Virtual: Como foi feito o processo de pesquisa para a elaboração do livro?

Julio Cezar P. de Oliveira: Essa obra é resultado de um esforço de pesquisa de mais de uma década que vem estudando os assentamentos criados a partir de ocupações lideradas pelo MST desde 1997. Devido à posição privilegiada da Uenf, que se localiza em Campos dos Goytacazes, tivemos a oportunidade de estudar uma dezena de assentamentos sob diferentes aspectos. O livro procura condensar este esforço analítico e, como fizemos tudo através de um estudo longitudinal da realidade, a obra oferece um olhar para além do imediato, se concentrando naqueles fatores mais persistentes e que, por isso, possuem um potencial de explicação mais forte da realidade.

Olhar Virtual: A obra apresenta os resultados objetivos da consolidação dos assentamentos e as dificuldades e transformações pelas quais os assentados têm que passar. O senhor poderia falar mais sobre isso?

Julio Cezar P. de Oliveira: O que os diferentes artigos que compõem o livro mostram é que, apesar de todas as limitações e dificuldades, os assentamentos do Norte Fluminense são um êxito no que se refere ao retorno de centena de famílias ao campo. Isto fica demonstrado não apenas no montante da produção que é gerada, mas também na melhoria das condições de economia e qualidade de vida da maioria das famílias assentadas.  Penso que o livro demonstra que isso ocorre sem que o Estado, em seus diferentes níveis, dê o efetivo suporte técnico e financeiro para que as famílias possam cultivar e comercializar a sua produção. Com isso, um dos artigos rotula a maneira com que a Reforma Agrária está sendo realizada no Norte do Rio e, ao mesmo, “desassistida”, que é de fato como a coisa acontece.

Olhar Virtual: Como foi feita a escolha do conteúdo e da ordem dos capítulos, já que, de acordo com a “orelha” do livro, ela não foi aleatória?

Julio Cezar P. de Oliveira: Primeiro, procuramos escolher um conjunto de temas que pudessem oferecer ao leitor uma ideia do amplo leque de elementos que afetam a efetiva consolidação dos assentamentos de Reforma Agrária. Além disso, convidamos o professor Paulo Alentejano, da Faculdade de Formação de Professores da UerjERJ, para apresentar um panorama geral da questão da reforma agrária no estado do Rio de Janeiro e o papel do Norte Fluminense neste processo.  O objetivo dessa forma de construção da obra foi demonstrar que a ideia de que o Rio de Janeiro não precisa mais da Reforma Agrária é equivocada.  Os artigos que retratam aspectos mais específicos do cotidiano dos assentamentos foram ordenados de maneira que o leitor pudesse visualizar a realidade dos assentados, suas dificuldades e as estratégias que adotam para permanecerem na terra que foi entregue a eles para a produção alimentos.

Olhar Virtual: Por que as experiências dos assentados foram usadas como recurso para contribuir com a discussão sobre a reforma agrária, que é um tema já bastante analisado?

Julio Cezar P. de Oliveira: Nós acreditamos que este livro, ao se concentrar nos assentados como unidade analítica, oferece uma contribuição que vai além do debate ideológico entre os que defendem e os que são contra a realização da Reforma Agrária. E aqui é preciso frisar que existem poucos trabalhos ainda sobre a realidade dessas comunidades a partir da realidade vivida pelos seus integrantes.  Apesar de já existirem obras que traçaram análises sobre os impactos regionais dos assentamentos, ainda temos uma escassez de conhecimento no impacto que eles trazem. Neste sentido, podemos considerar que, mesmo que o tema da Reforma seja razoavelmente debatido, os assentamentos e seus moradores são ainda praticamente ignorados. Além disso, se considerarmos a forma precária com que a Reforma Agrária tem sido executada no Rio de Janeiro, o livro representa uma contribuição importante para que possamos entender o que de fato acontece nas áreas reformadas.

Olhar Virtual: Em que consiste o debate teórico acerca da correção histórica da implantação da reforma agrária no norte do Rio e no Brasil?

Julio Cezar P. de Oliveira: O que nos parece claro é que, de conjunto, existem atualmente duas posições explícitas, não apenas sobre a necessidade atual da Reforma Agrária, mas sobre o modelo de agricultura que devemos ter no Brasil. Há os que afirmam que o momento de mudanças no campo já foi superado e apontam para uma suposta inexorabilidade da agricultura empresarial, voltada para a exportação de commodities agrícolas como soja, laranja e açúcar. E, em contraposição, há os que entendem a persistência dos altos padrões de concentração da terra como base das graves desigualdades sociais que persistem no Brasil. Além disso, a maioria os teóricos pró-Reforma Agrária entendem que a produção deveria ser voltada para assegurar a segurança alimentar dos brasileiros, o que só seria possível com um modelo ancorado na agricultura familiar. Esse livro, apesar de não ter um viés teórico e, sim, empírico, se coloca no campo da defesa da necessidade da Reforma, não apenas como um instrumento que possa garantir melhores índices de distribuição da terra, mas também que incorpore produtivamente milhares de famílias que, neste momento, se encontram segregadas nas áreas mais pobres das cidades brasileiras.

Olhar Virtual: Como a representação do quadro existente no Norte Fluminense pode contribuir para a compreensão da situação geral da Reforma Agrária e dos assentamentos em todo o Brasil?

Julio Cezar P. de Oliveira: Acreditamos que, infelizmente, o descaso e o abandono a que os assentamentos do Norte Fluminense estão submetidos não são exceção, mas regra no que se refere ao tratamento dispensado pelo Estado brasileiro. Eu me arrisco a afirmar que a leitura dessa obra permitirá ao leitor visualizar o que está acontecendo no resto do Brasil. Mas, para não ficar apenas no aspecto negativo do processo, creio que, também a partir deste livro, será possível identificar o papel preponderante que os assentados vêm tendo no processo de resistência à expansão do agronegócio, a partir de esforços na micro-escala. Os resultados desta resistência ficam evidentes toda vez que analisamos a origem dos alimentos que chegam às mesas dos brasileiros, o que, inclusive, ficou evidenciado pelos resultados do Censo Agropecuário de 2006.

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