Robert Fisk na GloboNews e o momento em que terminou a entrevista

Por Ana Helena Tavares Se me contassem, eu não acreditaria, mas ouvi em inglês e ainda li as legendas. Nesta segunda-feira à noite, o britânico Robert Fisk (foto), um dos mais conceituados jornalistas do mundo, terminou sua entrevista à GloboNews, com uma declaração bombástica: “Já estive em São Paulo e a máfia que encontrei lá é mais perigosa que a Al Qaeda.” Disse sério. E, estranhamente, a entrevista terminou nesse momento…

Por Ana Helena Tavares

Se me contassem, eu não acreditaria, mas ouvi em inglês e ainda li as legendas. Nesta segunda-feira à noite, o britânico Robert Fisk (foto), um dos mais conceituados jornalistas do mundo, terminou sua entrevista à GloboNews, com uma declaração bombástica: “Já estive em São Paulo e a máfia que encontrei lá é mais perigosa que a Al Qaeda.”

Disse sério. E, estranhamente, a entrevista terminou nesse momento…

Qual máfia? Por que é a mais perigosa? Perguntas que estariam no manual básico de qualquer entrevistador num momento desses, mas ficaram sem resposta. A entrevista terminou aí, sem mais detalhes, deixando insaciada a natural curiosidade dos telespectadores.

Foi, no mínimo, falta de respeito com quem tava assistindo, pois, se não queriam desenvolver esse tema, que nem tivessem levado ao ar essa frase, que gera as mais variadas elucubrações.

Fisk fala com conhecimento de causa, já que é hoje talvez o maior especialista em mundo árabe. A entrevista foi por conta da morte de Bin Laden, a quem ele entrevistou três vezes. O entrevistador de Fisk, Munir Safat, tentou de todo jeito que ele falasse sobre alguma ocasião em que se sentiu ameaçado por Bin Laden, mas ele insistiu que foi sempre muito bem tratado, como um hóspede a ser protegido.

Como eu disse, não sei exatamente a que Robert Fisk se referia em sua frase final, não sei que tipo de conotação metafórica ele pode ter querido dar às palavras “máfia” e “perigosa”, mas acredito que não tenham sido palavras jogadas ao vento. Primeiro pelo muito que ele conhece da Al Qaeda. Segundo pela demonização exagerada e sem conhecimento que o mundo faz da Al Qaeda. Depois pelo fato de todos sabermos da máfia que há não só em São Paulo, mas no Brasil inteiro.

Só que a da “terra da garoa” é encoberta pela grande mídia, como as nuvens costumam fazer com o céu da capital. E isso é, realmente, muito mais perigoso.

Poderá alguém dizer que, em Minas, também há essa proteção. Não vejo assim. Em Minas, tal como no Maranhão, o que há é censura. No caso de São Paulo, os grandes jornais locais e também o jornalão carioca se alinham ao governo paulista por ideologia. E, se ganharem pra isso, tanto melhor.

Mas a imprensa não é mafiosa sozinha: ela é um reflexo da sociedade. E Fisk demonstrou só ter visitado São Paulo, por isso só poderia mesmo falar de lá. No entanto, a máfia está nos quatro cantos deste país, inclusive e principalmente, nas prefeituras das cidades interioranas. É lá que tudo começa.

O problema é que a imprensa é seletiva na hora de escolher de quem vai ser porta-voz. Algumas máfias são denunciadas, outras não. Simples assim.

Vai daí que, infelizmente, precisamos de jornalistas estrangeiros para constatar o óbvio. E quando a constatação vem de alguém com a credibilidade de Robert Fisk é de provocar reflexão. Pena que não deixaram ele se explicar. Mais uma prova de que carecemos dos “forasteiros” para dizer o que os nativos escondem.

=> Abaixo uma sequência de imagens que mostra o momento da fala de Fisk:

Agradeço a Gregório de Matos pelo envio das imagens.

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A barbárie e a estupidez jornalística

Por Elaine Tavares Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece que aconteceria?

Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato

Por Elaine Tavares*, no Brasil de Fato

Imaginem vocês se um pequeno operativo do exército cubano entrasse em Miami e atacasse a casa onde vive Posada Carriles, o terrorista responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião que matou 73 pessoas. Imagine que esse operativo assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. Que lhes parece que aconteceria? O mundo inteiro se levantaria em uníssono condenado o ataque. Haveria especialistas em direito internacional alegando que um país não pode adentrar com um grupo de militares em outro país livre, que isso se configura em quebra da soberania, ou ato de guerra. Possivelmente Cuba seria retaliada e, com certeza, invadida por tropas estadunidenses por ter cometido o crime de invasão. Seria um escândalo internacional e os jornalistas de todo mundo anunciariam a notícia como um crime bárbaro e sem justificativa.

Mas, como foi os Estados Unidos que entrou no Paquistão, isso parece coisa muito natural. Nenhuma palavra sobre quebra de soberania, sobre invasão ilegal, sobre o absurdo de um assassinato. Pelo que se sabe, até mesmo os mais sanguinários carrascos nazistas foram julgados. Osama não. Foi assassinato e o Prêmio Nobel da Paz inaugurou mais uma novidade: o crime de vingança agora é legal. Pressuposto perigoso demais nestes tempos em que os EUA são a polícia do mundo.

Agora imagine mais uma coisa insólita. O governo elege um inimigo número um, caça esse inimigo por uma década, faz dele a própria imagem do demônio, evitando dizer, é claro, que foi um demônio criado pelo próprio serviço secreto estadunidense. Aí, um belo dia, seus soldados aguerridos encontram esse homem, com toda a sede de vingança que lhes foi incutida. E esses soldados matam o “demônio”. Então, por respeito, eles realizam todos os preceitos da religião do “demônio”. Lavam o corpo, enrolam em um lençol branco e o jogam no mar. Ora, se era Osama o próprio mal encarnado, porque raios os soldados iriam respeitar sua religião? Que história mais sem pé e sem cabeça.

E, tendo encontrado o inimigo mais procurado, nenhuma foto do corpo? Nenhum vestígio? Ah, sim, um exame de DNA, feito pelos agentes da CIA. Bueno, acredite quem quiser.

O mais vexatório nisso tudo é ouvir os jornalistas de todo mundo repetindo a notícia sem que qualquer prova concreta seja apresentada. Acreditar na declaração de agentes da CIA é coisa muito pueril. Seria ingênuo se não se soubesse da profunda submissão e colonialismo do jornalismo mundial.

Olha, eu sei lá, mas o que vi na televisão chegou às raias do absurdo. Sendo verdade ou mentira o que aconteceu, ambas as coisas são absolutamente impensáveis num mundo em que imperam o tal do “estado de direito”. Não há mais limites para o império. Definitivamente são tempos sombrios. E pelo que se vê, voltamos ao tempo do farwest, só que agora, o céu é o limite. Pelo menos para o império. Darth Vader é fichinha!

*Elaine Tavares é jornalista.

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