Essa foto foi tirada no dia em que tomamos um cafezinho juntos e tivemos a conversa abaixo... Observem que ele está compenetrado pra ver se aprova os meus versos... Não gostou nada, mas insisti tanto que ele permitiu a publicação...
Hoje, vivo fosse, Fernando Pessoa faria 123 anos. Há alguns anos escrevi um “diálogo” com trechos de poemas dele. Lembrando que este blog é também arte, publico hoje aqui. Os trechos de autoria do gênio português estão em itálico e entre aspas. Os trechos sublinhados em negrito são de minha autoria.
– Dedicado à minha amiga Gaby Mendes, por sua coragem de ter ido dialogar com o “poeta fingidor” em solo lusitano e por sua generosidade de ter voltado pra nos contar história.
-”Diálogo” com Fernando Pessoa – 1ª parte – A vida
Vida. O soar de um coração Doce magia e também sofrimento A verdade feita de ilusão Numa alegria banhada a lamento
“Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso nada é inteiro.”
Tal como o acordar de um vulcão Ou a forte rajada do vento As voltas da vida, meu irmão Vêm à sorte, não dizem momento
“Chove. Que fiz eu da vida? Fiz o que ela fez de mim De pensada, mal vivida… Triste de quem é assim!”
“Quem eu pudera ter sido Que é dele? Entre ódios pequenos De mim, estou de mim partido Se ao menos chovesse menos!”
Mas todo o sempre haverá de ser Grande exemplo de jornada Aquele que lutando morrer Sem deixar vazia a estrada
“Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do bojador Tem que passar além da dor Deus ao mar o perigo e o abismo deu Mas nele é que espelhou o céu.”
E nessa vida, sem ter um segundo, Vagamos à procura de um prumo Envolto no mistério profundo Daquilo que só tem um resumo: Nós somos feito um nada no mundo Pobre barco sem leme e sem rumo!
“E a única vida que temos É essa que é dividida Entre a verdadeira e a errada”
“Qual porém é a verdadeira? E qual errada, ninguém Nos saberá explicar; E vivemos de maneira Que a vida que a gente tem É a que tem que pensar”
Pois a arte de saber viver Que nos leva a ser feliz É viver para o saber Como eterno aprendiz!
“Mas triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz – Ter por vida a sepultura.”
“Eras sobre eras se somem No tempo que em era vem. Ser descontente é ser homem.”
Se para uns a luta é prazer Em nossa vida tão desejada Quem só deseja mesmo viver Ganha forças surgidas do nada
-”Diálogo” com Fernando Pessoa – 2ª parte – A lua
“A lua (dizem os ingleses), É feita de queijo verde. Por mais que pense mil vezes Sempre uma idéia se perde.”
Afinal, numa noite luminosa Essa lua ensolarada É a coisa mais formosa É dama consagrada
“E era essa, era, era essa, Que haveria de salvar Minha alma da dor da pressa De… não sei se é desejar.”
Sei que dos mágicos poderes Dessa lua de marfim Indecifráveis prazeres Brotam em mim
“Sim, todos os meus desejos São de estar sentir pensando… A lua (dizem os ingleses) É azul de quando em quando.”
-”Diálogo” com Fernando Pessoa – 3ª parte – A saudade
O que dizer da saudade? Sentimento que chega de mansinho E de repente dá uma forte vontade Vontade de voltar ao ninho
Sem nos pedir licença Chega para nos fazer Sentir falta da presença De alguém que nos faz viver
“E isto lembra uma tristeza E lembrança é que entristece Dou à saudade riqueza Da emoção que a hora tece”
“Mas, em verdade, o que chora Na minha amarga ansiedade Mais alto que a nuvem mora Está para além da saudade”
É sensação de peito apertado Que não fere o corpo mas sim a alma E só tornando-se a ver o ente amado É que então o coração se acalma
“Tenho saudade, entre o tédio, Só do que nunca quis ter Eu amo tudo o que foi, Tudo o que já não é, A dor que já me não dói, A antiga e errônea fé, O ontem que dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi, e voou E hoje é já outro dia”
Por isso a saudade, tão difícil de ser entendida, Parece nos fazer entender: Não se pode dar valor a algo na vida Só quando sua falta nos faz sofrer.